terça-feira, 22 de outubro de 2013

Acabei de Ler: Cinquenta Tons de Cinza

Já acabei de ler esse livro faz um tempo, mas acho que ainda estava digerindo-o, pensando se valeria a pena escrever sobre ele aqui no blog. No fim, disse a mim mesma: "Porque não? Às vezes a vida precisa de livros dos quais não gostamos."
Voltando um passo para trás, explico que eu sempre tive preconceito com os best sellers do momento. Aqueles livros que estão na porta de todas as livrarias formando espirais e pirâmides. Aqueles dos quais todos mundo fala e você, que não o leu, fica com cara de ponto de interrogação. Para dar uma ideia, acabei comprando o meu exemplar de "O Código da Vinci" convencida por uma amiga, numa feira do livro, com 50% de desconto algo como um ano depois do lançamento. Prefiro esperar um tempo, esperar a poeira baixar, tentar descobrir algo a mais a respeito do volume e se o que eu encontrar me despertar qualquer curiosidade, encaro a leitura. Muitas vezes acabo me surpreendendo e tendo que rever minha opinião e quando isso acontece, fico imensamente agradecida por ter dado o braço a torcer.
Com "Cinquenta Tons de Cinza" o começo não foi diferente. A maioria das mulheres que conheço falava do livro, cochichando, como se estivéssemos na Idade Média e o livro fosse algo proibido. Algumas casadas então falavam do livro como se estivessem traindo o marido. Os comentários gerais me deram a entender que era um livro de sexo. Não um livro erótico, provocativo, instigante. Não. De sexo. Não era absolutamente por puritanismo minha resistência, mas sim pelo tom medieval com que todas as mulheres falavam do assunto do livro. Decidida a não lê-lo, assumi as consequências de ser tratada como uma leitora-fora-de-moda até o dia em que minha irmã me garantiu que o livro não era só de sexo, que tinha questões psicológicas envolvidas e que eu deveria encarar, nem que fosse para ter mais argumentos para criticar depois. Geralmente gosto bastante dos livros que ela me indica, por isso topei. 

Li a versão em italiano e, como não conheço a versão em português, não consegui decifrar se as frases curtas, truncadas, do tipo "três palavras e ponto", daquelas que parecem degraus de um passo e meio, eram falhas de tradução ou característica da autora. Mas essa característica, independente de sua origem, só contribuiu para que eu não gostasse do que estava lendo. Mesmo assim banquei a orgulhosa e fui em frente, decidida a chegar até o fim. Para isso tive que conviver com personagens estereotipados que se alternavam na tarefa de me irritar, ora com seus complexos de adolescente virgem, mesmo não sendo mais adolescente, ora com sua mania de manipulação e controle, com aquele perfume de "eu sou lindo e maravilhoso como você nenhum outro homem na galáxia e por isso todas as mulheres fazem o que eu quero", ora juntos fazendo exatamente aquilo que "o lindo" queria fazer. 
Em um determinado momento do livro o fator sentimento começa a aparecer, bem como alguns fantasmas do passado começam a ser sutilmente introduzidos - mas não explicados - e nenhum dos dois personagens centrais sabe o que fazer com isso. Ele, por ser um dominador convicto, parece que nunca precisou lidar com sentimentos nem com questionamentos externos, mas apenas com suas questões interiores, que ele insiste em reprimir. Ela é a dominada, não apenas por ele mas por suas próprias fraquezas, por sua curiosidade e porque não - na minha modesta opinião - por aquilo que me parece um complexo de inferioridade ainda forte em muitas mulheres (infelizmente) que insiste em dizer que "um deus grego como esse jamais olhará para mim de novo se eu não fizer tudo o que ele quer". E quando as coisas estão prestes a dar uma virada... o livro acaba. Quer dizer, não acaba, porque na última página está escrito com todas as letras que se você quer saber o destino dos personagens, deve ler "Cinquenta tons mai escuros" e depois "Cinquenta tons de liberdade". E eu, que achava que eram três livros independentes, fiquei no mínimo enfurecida por ter chegado ao fim e descobrir que o fim não estava ali, que aquele era apenas o primeiro da trilogia, sabiamente editada com três títulos diferentes, sem indicação de número de volume. 
Não sou psicóloga e não vou me aventurar mais profundamente em análises sem embasamento teórico, mas meu repertório de leiga me deixou um gosto amargo na boca depois da leitura deste livro. Um gosto de violência e de submissão, onde o sentimento parece entrar apenas para aliviar e justificar - no sentido ruim da palavra - os fatos. Além do mais é um gênero literário - ao qual não consigo atribuir um nome - que não me agrada absolutamente, com sua avalanche de pontos e parágrafos e uma certa restrição de vocabulário, já que fique com a impressão que palavras demais se repetiam o tempo todo. 
Pois bem, eu encarei o livro conforme a sugestão da minha irmã e, como pode ser percebido, acabei ganhando mais argumentos para criticá-lo. Uma amiga psicóloga, quando numa bela tarde conversávamos a respeito, me disse que concordava com todas as minhas críticas mas que seria interessante que eu lesse os outros dois volumes. Ainda não sei se vou topar. Se isso acontecer, certamente não será logo, considerando a pilha de livros novos que ainda aguardam minha leitura, mas certamente a experiência será descrita aqui no blog, mesmo que mais uma vez negativa. Afinal, não é só de livros bons que a vida precisa!

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