Uma das vantagens de dominar
vários idiomas é a possibilidade de ler livros que não necessariamente são
editados na língua mãe do leitor – ou na língua do país onde ele vive. Esse é
meu caso: nasci na Itália e vivi lá até os onze anos. Quando me mudei para o
Brasil aprendi a ler, escrever e falar português na escola, mas sem perder o
contato com as minhas origens e depois de alguns anos, comecei a dar aulas de
italiano e graças a essa atividade consegui não apenas manter o que eu já
sabia, mas pude aprofundar o conhecimento formal do idioma. Hoje, exatamente
pelo domínio que tenho tanto do português como do italiano, consigo falar,
escrever e ler praticamente com a mesma facilidade nos dois.
Além disso as aulas me levaram a
conhecer pessoas que assim como eu vieram de lá e trouxeram consigo um montão
de livros interessantes e/ou trazem mais um tanto todas as vezes que retornam à
terrinha.
Não fossem as aulas que dei e
ainda dou, não teria tido a oportunidade de conhecer obras que ainda não são
traduzidas para o português, como La prima indagine di Montalbano, de Andrea
Camilleri.
Montalbano é um delegado de
polícia perspicaz, pronto a resolver todos os casos com a dedicação e a garra
típica dos sicilianos, que de tão interessante saiu das páginas dos livros e se
tornou protagonista de uma série televisiva exibida pela RAI. Se bater a curiosidade, aqui está a página da série.
No livro, apesar do título ser “A
primeira investigação de Montalbano”, o autor apresenta três estórias que
retratam o comecinho da carreira do nosso herói através de três casos
diferentes. São contos que envolvem mistério mas que, ao contrário de tantos
outros do mesmo autor, não envolvem assassinatos de pessoas. No primeiro o
ponto central é uma estranha matança de animais, que começa com um peixe e
chega a um elefante. No segundo o personagem central é uma moça misteriosa que
está supostamente envolvida com a máfia e no terceiro o caso a ser resolvido é
o do sequestro – e da libertação - de uma menininha. Os três contos equilibram as
doses certas de mistério, de tensão, de comédia – com as tiradas mal humoradas
do delegado, que sofre de uma gastrite-crônica-quase-úlcera – e até de romance,
ingredientes presentes em todos os trabalhos de Camilleri. Não vou me
aprofundar porque corro o risco de dizer o que acontece no final...
Outra característica da
literatura deste autor é o idioma: os contos se passam na região da Sicília e,
apesar da maior parte do livro ser em italiano, os diálogos são escritos em
dialeto siciliano, conferindo ainda mais realismo aos seus personagens e
tornando a leitura mais árdua mesmo para quem domina o italiano, mas justamente
por isso mais divertida (pelo menos na minha opinião).
Sei que para quem está lendo pode
ser difícil ter acesso a essas obras, mas se tiverem oportunidade – e se
souberem ler em italiano – se joguem na leitura. Não vão se arrepender!!
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